Empreendedores da zona rural da Paraíba se tornam referência por pensarem “fora da caixa”

Atualizada em 31/01/2023 às 22:27 Por Redação

Ver oportunidades onde a maioria das pessoas não consegue enxergar. Se deparar com o problema e criar alternativas, novos caminhos. Quem possui visão empreendedora tem mais probabilidade de obter melhores resultados quando decide investir em algum negócio. De acordo com o Sebrae, aquele que tem esse diferencial consegue “enxergar além do que os outros enxergam, encontrando as melhores perspectivas para se destacar no mercado”. Somente quem tem visão empreendedora consegue ver o potencial existente em espaços onde os outros acreditam estarem saturados. E é assim em qualquer ambiente, em qualquer região. Na zona rural, não é diferente.  



Os investimentos no campo são a principal atividade para 57,3% dos municípios brasileiros, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o avanço tecnológico, os trabalhadores acompanham tudo o que acontece no agronegócio, apostando no empreendedorismo como oportunidade de otimizar resultados, diminuir danos ao meio ambiente e potencializar as safras. 



Mas, ter visão empreendedora e não ter apoio ou parcerias torna difícil o caminho das melhores iniciativas, muitas inovadoras. Por isso, segundo especialistas, o crédito rural é indispensável no auxílio das despesas e ciclos produtivos, além de ser um grande incentivo para o investimento em bens e serviços, que podem resultar na melhoria da função dos profissionais do campo. 


A seguir...


Você vai conhecer histórias de pessoas que souberam unir as duas coisas: a visão empreendedora e o apoio para otimizar os investimentos. Pessoas que vêm se destacando em suas regiões, a ponto de se tornarem referência em todo o Nordeste. 








"Sim. Produzimos morango no semiárido da Paraíba"



“Desde o início, vimos como uma oportunidade de negócio. Pensamos em diversificar os investimentos…Pesquisamos o mercado e vimos que tínhamos um clima propício para isso. Pensamos: por que não?”. O depoimento é do produtor rural Stênio Andrey Guedes Dantas, um dos dos integrantes de uma família que decidiu investir na produção de morangos em pleno semiárido paraibano.


A família mora em Nova Floresta, a 120 quilômetros de João Pessoa. Desde 2002, produz e comercializa produtos sem agrotóxicos, principalmente hortaliças. O sistema utilizado é o da hidroponia, em que as plantas ficam com as raízes imersas dentro da água, onde são adicionados fertilizantes para alimentação. A decisão ousada de arriscar a produzir morangos no agreste do estado surgiu em 2017.





IdeiaPositiva · Stênio fala sobre a decisão de investir na produção de morangos



O morango utiliza pouca água no sistema hidropônico, o que também facilitou a produção e aceitação do produto. Hoje, o negócio da Família Dantas mantém seis mil plantas de morango por ano. 

O visionário Stênio faz questão de ressaltar que os “Morangos de Nova Floresta” vêm dando certo, também, graças ao apoio dos integrantes da família, mas, principalmente, em virtude da parceria com órgãos como o Banco do Nordeste.

Foi por meio de uma linha de crédito do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) que a iniciativa foi implantada. 



“O BNB contribuiu com a viabilidade e o crescimento do nosso negócio. Com o crédito rural, o produtor consegue ‘respirar’, obtém dinheiro para utilizar na estruturação das demandas, recebe orientação e minimiza os riscos”, declarou Stênio. 



O avanço dos negócios estimula a Família Dantas a pensar na ampliação das atividades. Quem sabe, até mesmo, implantar uma rota de turismo na cidade, incluindo uma visita à produção de morangos, uma espécie de “pague, coma e colha”...à vontade! 









IdeiaPositiva · Stênio fala sobre as metas para os próximos anos











"Temos orgulho de ser uma das maiores produtoras de avicultura sustentável da Paraíba" 


Natanael Saturnino nunca imaginou que conseguiria voltar os olhos do Nordeste para o seu projeto de avicultura sustentável, localizado no sertão da Paraíba. Morador de Bom Sucesso, a 463 quilômetros da capital paraibana, Natanael, atualmente com 32 anos, cresceu acostumado com a vida simples no “Sítio Barrinhos”. Quando pequeno, ajudava os pais com as atividades de agricultura. Mas, naquela época, o empresário já olhava tudo com uma visão empreendedora. 


Há 11 anos, Natanael começou a empreender no ramo da bovinocultura, mas o ano de 2012 foi um muito difícil para a criação de gado, principalmente na região Nordeste, que apresentou uma baixa de 4,5% na criação de bovinos em relação ao ano anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE. A Paraíba foi o local que apresentou a maior baixa no Nordeste, apresentando uma queda de 28%. Isso tudo por causa da seca. Em 2012, 195 dos 223 municípios da Paraíba entraram em situação de emergência, segundo os dados da Defesa Civil da Paraíba. 


Batendo de frente com essa adversidade, Natanael decidiu se reinventar e vendeu as 30 cabeças de gado que possuía para dar início a uma nova jornada. Com uma visão empreendedora, ele pegou o dinheiro da venda do gado e abriu um novo negócio: a “Panificadora Bom Sucesso”, em 2013.


Com o sucesso do novo empreendimento, Natanael pensou sobre o que fazer com a fazenda da família. E foi na conversa com o amigo Vicente de Assis Ferreira, consultor do Sebrae Paraíba, que veio a ideia: investir na avicultura sustentável.


Os sistemas de produção sustentável de avicultura são baseados nos princípios da agroecologia e buscam um equilíbrio entre a produção, o bem estar animal, a conservação dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente. Entre as ações implementadas, estão a produção de ovos por meio de um sistema onde as galinhas ficam presas à noite e durante o dia seguem livres no pasto, botando seus ovos em ninhos e não em gaiolas, como na avicultura industrial.


Com a sugestão na cabeça e a vontade de pôr em prática o novo negócio, Natanael foi até o Banco do Nordeste (BNB) apresentar o projeto, que foi “abraçado” pela instituição. 



IdeiaPositiva · Natanael fala sobre a importância do financiamento rural


Natanael conta que, hoje, a granja funciona com três funcionários e alguns prestadores de serviços na parte da entrega. Atualmente, o Sítio Barrinho é o maior produtor de aves e ovos caipiras da região e o primeiro entreposto do sertão da Paraíba a ser certificado pelo Ministério da Agricultura. No local, eles também investem na suinocultura (criação de suínos), embora as atenções sejam mais voltadas à avicultura. Para Natanael, as linhas de financiamento foram fundamentais para o sucesso da empresa. 







IdeiaPositiva · Natanel fala sobre os impactos do seu negócio na sua região


O empreendedor rural se sente realizado, mas afirma: esse não é o fim da jornada! A meta é dobrar a produção até o ano de 2025.







"Criamos a própria empresa depois de percebermos a desvalorização do nosso produto"



José Wandeilson, de 31 anos, sempre foi inquieto e observador. Morador de Tacima, a 153 quilômetros de João Pessoa, cresceu vendo os avós produzirem queijo apenas para consumo. Aprendeu a ordenhar as vacas da família e, depois, a produzir os próprios queijos...para venda! Percebeu a oportunidade de negócio ainda quando era mais jovem. 


Com a produção estratégica, passou a fornecer o leite para uma marca consolidada da região, porém a compradora começou a desvalorizar o produto, querendo pagar cada vez menos. Esse foi o pontapé que José precisava para abrir a própria empresa. “A desvalorização do nosso produto me incomodava. Decidi caminhar de forma independente. Em quase três anos de empresa, a gente consegue manter o preço e ter reconhecimento dos produtores locais. Assim fica mais fácil vencer as dificuldades”, declarou.


A visão empreendedora se aguçava cada vez mais. José procurou a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na cidade de Areia, para obter mais conhecimentos. Acabou conhecendo Ubirajara Silva dos Santos, que atua como técnico administrativo na Universidade. Ubirajara se colocou como um importante parceiro, compartilhando conhecimentos sobre produção de laticínios. Wandeilson percebeu mais uma oportunidade. 


Então foi buscar o auxílio do Banco do Nordeste (BNB) para dar início ao que hoje é a “Flor do Campo Laticínios”, empresa criada por José e que passou a contar, também, com o apoio de sua irmã Talita Cruz. O sonho se tornou possível em 2021, por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) juntamente com o BNB.


Atualmente, a “Flor do Campo Laticínios” conta com cinco funcionários e produz duas variedades de queijos, além de doce de leite, iogurte e manteiga da terra. O empreendedor ressalta que os produtos são bem recebidos não só em Tacima, mas também por outras cidades vizinhas como: Belém, Solânea e Dona Inês. 


IdeiaPositiva · José Wandeilson fala sobre a aceitação dos produtos


A parte administrativa é um dos grandes desafios para José e a irmã, assim como as incertezas geradas pela seca. Mas, perseverantes, os irmãos seguem a jornada empreendedora, satisfeitos com os resultados obtidos até agora e certos de que os próximos meses serão ainda mais promissores.


“Tenho orgulho de ver a nossa marca como referência de qualidade em toda a região”, falou, sorridente, o empreendedor.  






Crédito rural: estímulo ao empreendedorismo



Como vimos, ter visão empreendedora sem apoio ou parceria torna a jornada dos "visionários" mais arriscada e difícil. Nesse sentido, o crédito rural surge como grande estímulo. O financiamento oferece taxas de juros menores e com prazo de carência considerável para início do pagamento. Geralmente é destinado a associações, cooperativas e aos produtores rurais. O objetivo é fortalecer o setor, melhorar a vida de quem vive no campo, estimular a geração de renda na agricultura familiar e proteger o meio ambiente.


Com as linhas de financiamento disponíveis, o produtor pode, por exemplo, comprar animais e equipamentos, custear a produção, expandir os negócios ou criar projetos inovadores, como vimos nessa reportagem. 


Órgãos como o Banco do Nordeste oferecem alternativas que podem auxiliar melhor os produtores. São iniciativas como: Crediamigo, Agroamigo, Programa de Apoio ao Desenvolvimento Rural, linhas de crédito associadas ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), entre outras.  


Em 2022, só com o Crediamigo, o BNB aplicou R$ 643,4 milhões na Paraíba, com mais de 212,6 mil operações. No Agroamigo, foram cerca de 49 mil operações, com R$ 309,7 milhões de aplicados. Já com o Pronaf, o Banco do Nordeste realizou quase 1.100 operações rurais, com aproximadamente R$ 43 milhões disponibilizados. Os números representam cerca de 50% de crescimento, na comparação com o mesmo período de 2021. 


As facilidades em torno dos financiamentos fazem a economia girar...o agronegócio prosperar.


De acordo com o Governo Federal, 70% de todos os alimentos consumidos pelos brasileiros são provenientes da agricultura familiar, ou seja, de pequenos produtores. 


Isso significa que o agronegócio cumpre um importante papel social, fornecendo alimento e renda para famílias de todo o nosso território.


E o crédito rural pode ser a porta de entrada para esse segmento tão estratégico da economia. O resultado é mais fôlego para expandir, ganhar competitividade de mercado e prosperar.



Keke Roseberg, gerente do Banco do Nordeste na Paraíba, destaca a importância do agronegócio para a região e para o estado, principalmente em tempos de pandemia. Os números mostram que as aplicações de crédito rural na Paraíba cresceram nesse período. E, além do crédito para financiamento, os editais de recursos não reembolsáveis do BNB, relacionados a projetos de inovação ligados a atividades agrícolas, também foram fundamentais para o desenvolvimento da região nos últimos anos", ressaltou.  








Reportagem: Richelle Bezerra e Brenno Cardoso. 




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